terça-feira, 10 de agosto de 2010

Actor

Quero-te falar das coisas mais singelas,
daquelas tão banais que nunca ninguem repara,
como o som do vento que sopra na seara
e o raio de sol que entra pelas janelas.

Como o suspiro humilde de quem ama
ou azul do céu reflectido no mar.
A lágrima fria de quem vive um drama,
como o branco sujo de cada luar.

Quero falar disto porque tudo nisto é vida
e a vida é linda até na frieza da dor.
Talvez nascida do ninho quente do amor
ou da saudade de um beijo de despedida.

Quero falar disto porque tudo isto é cor,
e escrevo, como se pintasse uma aguarela
em que a vida é o tema da minha tela,
e eu vivo nela e sou actor

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nocturno

Corre me um frio de liberdade na pele,
que entra pela janela deste quarto.
Sinto-me calmo como as nuvens
que se formam e que se desfazem
enquanto o vento agita
as folhas e o lixo e os cabelos.
Tenho vontade de dizer a mim mesmo_
"atira-te e voa que és capaz",
"encontra acima da terra que pisas o sabor que precisas,
a adrenalina de seres tu".
Tenho vivido como um louco,
absorvido a noite como uma esponja,
conhecido tantas caras, tantos nomes, tantos feitios.
Amigos que se amam, desconhecidos que se beijam,
hercules que se batem porque perderam a razão.
Assisto ao nascer do futuro de olhos abertos,
esboço sorrisos em cada ocasião
e tento encontrar-me dentro de cada um.
O sol entra agora pela janela, froxo, como se dissesse adeus,
é chegada a hora de viver.

domingo, 18 de abril de 2010

...sem nome faz mais sentido...

Eu hoje não me oriento.
Sou um mundo complexo de exitações.
Pensar é o meu sustento,
eu que me alimento de interrogações.

Não sei lidar com este facto.
Perdi a minha alma nesse enredo,
porque o que dizes é abstrato, tão abstracto
que o que és permanece segredo.

Defino-te como a destruidora de castelos.
Destruiste a muralha que me defendia,
sinto-me derrotado pelos teus olhos.
Iluminaste a sombra que me escondia.

E agora?? Confesso que tenho medo.
Entrei em jogo e não tenho táctica.
Estou na dúvida se sou o degredo
ou um bicho com utilidade prática.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Não!!!!

Como um vício ,descontroladamente, desejado,
Como algo superior a mim e à minha vontade,
Surge o pensamento desapontado
Da humilde e triste realidade.

Como personagem de fixão,
Mero figurante da narrativa,
Este sentimento intrefere na acção,
E magôa a minha humilde e triste vida.

Como um doce sonho inacabado,
Ou um amargo pesadelo ainda a meio,
Tudo o que sou ficou no passado,
E hoje sou eu, humilde triste e feio.

NÂO!

Como árvore de fruto proibida,
De fruto proibido ou tentação,
Surges tu humilde triste esquecida,
Que procuras o meu humilde triste perdão.

NÂO!


Como lei de quem ensina,
Como xaga de quem castiga,
Prova do destino ou da sina,
E enche a barriga.

Com o meu humilde e triste NÂO!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O poeta é filósofo

Sou filósofo enquanto poeta,
A minha filosofia é cada palavra que dito,
Cada sentimento repentino e finito,
Cada absurdo banal que me afecta.

O meu sentido é o do vento,
Só os factos me alteram o rumo,
Neste mundo onde tudo é pó e fumo,
Onde o azul se tornou um profundo cinzento.

Não vivo por viver,
Estou cá e adoro a vida,
Apenas quero escapar, mas não há saida,
Pois sei que o meu futuro é morrer.

A poesia sente-se!

A poesia não é algo que se peça de repente,
Não é algo que se pense ainda que o seja,
A poesia é algo que se sente
E que nos abraça numa melancolia que se deseja.

É poesia qualquer sentimento,
Até a raiva pode ser poeticamente expressada,
Mesmo o ódio que nos consome o pensamento,
Pode ser a mais bela poesia formada.

Se odeio, a poesia torna-se fria,
Se eu sinto, a poesia sente,
Se eu amo, a poesia é vida,
Se eu desejo, a poesia é quente.

Se eu choro, a poesia é triste,
Se eu rio, ela é engraçada,
Se eu não sinto, ela não existe,
Porque não é poesia a escrita pensada.

Oh tempo ladrão

Hoje sinto vontade de recordar.
Sinto vontade de ser melancólico e triste.
Sinto vontade de fechar os olhos e descansar,
Vontade de não ter conhecido tudo o que existe.

Hoje, nem sei porquê, eu sinto vontade
De ouvir o vento, que sopra tão manso,
Sem ter de pensar na realidade,
Apenas vivê-la, enquanto descanso.

A falta que sinto de um doce momento,
Em que tudo cala, excepto o meu respirar,
Que define suavemente todo o tempo,
Que passa e passa e torna a passar.

Tu tempo, que és o maior ladrão,
Que sempre que passas não vais sem roubar,
Quando é que te prendem numa prisão,
Que não mais te deixe por mim passar?!